Sofrer por amor faz mal ao coração. E não apenas no sentido metafórico, tão explorado pelos poetas. Um estudo realizado por pesquisadores da...

Sofrer por amor pode fazer mal à sua saúde

Sofrer por amor faz mal ao coração. E não apenas no sentido metafórico, tão explorado pelos poetas. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Amsterdã, na Holanda, e publicado na revista americana Psychological Science, comprovou aquilo que os amantes há tempos já sabem: o sentimento de rejeição pode fazer o órgão parar de bater.

Cientistas holandeses descobrem que sentimento de rejeição tem implicações físicas. Sofrer por se sentir excluído pode fazer até o coração parar, diz o estudo.
Pesquisas anteriores já mostraram que a dor física e a social são processadas nas mesmas áreas do cérebro. Essas regiões, como o córtex cingulado anterior dorsal, a ínsula anterior e o córtex pré-frontal ventral direito, são responsáveis pelo estresse social. Mas, desta vez, os cientistas queriam descobrir como a dor emocional afeta as pessoas fisicamente. O resultado foi uma queda momentânea na freqüência cardíaca de quem se sentia rejeitado.
Duas semanas antes do experimento, 22 jovens entre 18 e 25 anos foram contatados por telefone para participar de um estudo.
Quem aceitou teve de mandar uma fotografia para os pesquisadores, que informaram que o retrato seria enviado a outra universidade, onde estudantes dariam suas impressões sobre as imagens. Foram instalados eletrodos no corpo dos voluntários, que, depois de observarem, em um painel, o rosto dos universitários que receberiam suas fotografias, tinham duas tarefas.
A primeira consistia em um julgamento social. Eles eram instruídos a responder à seguinte questão: “Você acha que essa pessoa gostou de você?”. Logo depois, os pesquisadores diziam o resultado, e os voluntários eram informados se tinham sido aceitos ou rejeitados. O que eles não sabiam é que esse julgamento não foi feito pelos universitários, mas era uma resposta aleatória, gerada por computador.
Ritmo
A segunda tarefa estava relacionada à idade dos participantes. Os voluntários deveriam analisar as fotografias e decidir se a pessoa no retrato tinha 21 anos ou mais. Esse experimento servia como uma condição de controle do ritmo cardíaco. Cada palpitação do órgão é controlada pelo sistema nervoso parassimpático. Enquanto isso, o sistema nervoso é responsável por aumentar a freqüência cardíaca. É dessa forma que o cérebro atua na regulação do sistema nervoso autônomo (SNA), responsável pelo controle das funções da vida, como a respiração e a digestão.
Antes de ouvir a resposta da primeira pergunta, os jovens apresentaram uma diminuição na freqüência do coração. O ritmo cardíaco também foi atingido depois de saberem a opinião das outras pessoas sobre eles. Quando a resposta era negativa, havia uma queda ainda maior no ritmo dos batimentos, e o coração tardava muito mais para voltar ao normal. Aqueles que acreditavam muito em sua aceitação tiveram sintomas ainda mais intensos.
A pesquisadora à frente do estudo, Bregtje Gunther Moor, estudante de Ph.D. em psicologia do desenvolvimento pela Universidade de Amsterdã, explicou ao Estado de Minas que a diminuição no ritmo dos batimentos cardíacos pode ser interpretada como uma resposta do corpo para a rejeição social, aumentando o processamento dos sentimentos de rejeição ou de aceitação no meio social. “Acredito que essa seja uma forma de o organismo se adaptar às informações enviadas pelo cérebro relativas aos laços sociais”, afirma.
Os pesquisadores dizem que as descobertas do estudo reforçam que os humanos são criaturas sociáveis e que querem ser aceitos pelos outros. “Nesse sentido, você pode dizer que as pessoas são sensíveis à rejeição por outras, e que elas desenvolveram um sistema sensitivo para detectar os sinais de rejeição”, conta Bregtje. A partir dos resultados, os cientistas fazem sugestões sobre o sistema nervoso autônomo. Uma das implicações é que ele esteja conectado ao compromisso social.
Exclusão social prolongada leva à depressão
A descoberta pode ser usada para estudar as diferenças individuais na sensibilidade à rejeição social, como as diferenças entre os sexos. A pesquisadora vai além: “Também podemos pensar em estudar mais sobre as diferenças no desenvolvimento, como adolescentes ou crianças que, mais velhas, poderão ser particularmente mais sensíveis do que outras”. Ela propõe, além disso, repetir a pesquisa em indivíduos hipersensíveis à rejeição social. “Isso pode nos ensinar mais sobre a origem das desordens psicológicas”, acredita.
Professor e chefe do Departamento de Psicologia do Desenvolvimento na Universidade de Amsterdã, Van der Molen disse ao EM que a exclusão social prolongada ou habitual pode resultar em estados psicopatológicos, como a depressão. Do ponto de vista evolutivo, segundo o cientista, as descobertas alertam para a importância do sentimento de pertencer ao meio social. Ou seja, os humanos desenvolveram um sistema sensitivo sofisticado, que rapidamente detecta os sinais de rejeição.
O neuropsicólogo brasileiro Fernando Miranda assegura que todas as seis emoções básicas – alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo – estão relacionados ao cérebro. No entanto, ele lembra que a rejeição não é uma emoção verdadeira. “A verdadeira emoção é a tristeza. A rejeição é uma forma derivada da tristeza”, diz. A partir daí, a tristeza mobiliza uma série de estruturas no cérebro, que desencadeiam como o estudo mostrou uma resposta que acaba atingindo o corpo.
“Muitas vezes, quando você vê uma pessoa de que gosta, seu coração começa a bater mais rápido, a barriga fica fria. Essas são características físicas”, exemplifica Miranda. O que acontece é que, ao gostar de uma pessoa, só o ato de vê-la já produz uma série de mecanismos de transmissões sinápticas no cérebro, desencadeadas pelos neurotransmissores. “É desta maneira que as emoções trabalham: com o componente fisiológico e com o componente psicológico”, esclarece o neuropsicólogo.
Aumento da mortalidade
O psicanalista René Spitz estudou bebês que viviam em abrigos ou que sofriam de carência materna. Em 1945, ele desenvolveu um conceito chamado hospitalismo, que mostra as conseqüências do abandono e da rejeição. Segundo Spitz, os bebês teriam algum problema físico ou psicológico que poderia afetar o seu desenvolvimento, sendo que a taxa de mortalidade entre essas crianças era maior do que as verificadas nas demais.


Via: aloalobrasil